Edvaldo
Pitanga (*)
Esta é a pergunta que
invariavelmente me faz “o nosso pessoal em terra” da TAM quando estou na fila
de atendimento exclusivo aos clientes de status vermelho do seu programa de
fidelidade. A princípio achava normal esse tipo de procedimento, porque por
desconhecimento ou pura esperteza alguns se dirigem à fila de check-in que
esteja menos concorrida.
Isso até que um dia
surpreendi uma atendente me submetendo a uma acurada análise visual e
concluindo, pelos meus trajes, que eu era suspeito de estar me aproveitando do
atendimento privilegiado. Tive a certeza porque ela ignorou solenemente dois
senhores que estavam em minha frente, esses sim, bem vestidos, segundo seus
critérios ideológicos.
Sempre me interessei
pela influência e papel que a ideologia burguesa exerce sobre os trabalhadores
convencendo-os de que esse mundo e as relações por ela moldadas – econômicas,
políticas, culturais – são do seu interesse de classe. Parcelas da classe
média, principalmente, absorvem esses princípios e se tornam reacionárias e
retrógradas. Na outra ponta estão os trabalhadores que recentemente, por conta
da política econômica e das ações de inclusão social, estão tendo o primeiro
contato com os seus direitos de cidadãos. Mesmo que ainda não plenos, é
verdade.
E foram representantes
dessa parcela incluída, três mulheres e dois homens, que flagrei (e fotografei)
no portão de entrada do aeroporto de Salvador, de mãos dadas, olhos fechados,
orando e agradecendo a Deus ‘pela oportunidade de fazer esta primeira viagem de
avião’. Embora não me filie a nenhuma religião, também acredito que Deus está
em toda parte e que iluminou a cabeça desse pessoal do PT e aliados que estão
no governo há doze anos e criaram as condições para o acesso de muita gente a
esse meio de transporte, antes exclusividade da classe média e da burguesia.
Há poucos dias ouvi a
reclamação de uma integrante da classe média de que aeroporto agora parece
rodoviária. Parece, não. Os empresários das empresas de ônibus estão reclamando
da perda de passageiros para o avião e acho que
se melhorarem, e muito, o serviço a rodoviária é que vai parecer
aeroporto. Enfim, o pessoal que não gosta de se misturar irá buscar esse meio
de transporte, porque o aeroporto vai estar cheio de novos cidadãos e cidadãs.
Agora compreendo porque
‘nosso pessoal em terra’ me pergunta se sou “fidelidade vermelho”. É porque
estou vestido de “rodoviária”. E não é pra menos: só compro roupa anualmente na
Liquida Salvador, que acontece sempre no mês de março e lá não tem aquelas
grifes de nomes impronunciáveis usadas pelos classe média e burguesia.
(*)
Edvaldo Pitanga é sindicalista
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