terça-feira, 20 de maio de 2014

O SENHOR É FIDELIDADE VERMELHO?

Edvaldo Pitanga (*)

Esta é a pergunta que invariavelmente me faz “o nosso pessoal em terra” da TAM quando estou na fila de atendimento exclusivo aos clientes de status vermelho do seu programa de fidelidade. A princípio achava normal esse tipo de procedimento, porque por desconhecimento ou pura esperteza alguns se dirigem à fila de check-in que esteja menos concorrida.

Isso até que um dia surpreendi uma atendente me submetendo a uma acurada análise visual e concluindo, pelos meus trajes, que eu era suspeito de estar me aproveitando do atendimento privilegiado. Tive a certeza porque ela ignorou solenemente dois senhores que estavam em minha frente, esses sim, bem vestidos, segundo seus critérios ideológicos.

Sempre me interessei pela influência e papel que a ideologia burguesa exerce sobre os trabalhadores convencendo-os de que esse mundo e as relações por ela moldadas – econômicas, políticas, culturais – são do seu interesse de classe. Parcelas da classe média, principalmente, absorvem esses princípios e se tornam reacionárias e retrógradas. Na outra ponta estão os trabalhadores que recentemente, por conta da política econômica e das ações de inclusão social, estão tendo o primeiro contato com os seus direitos de cidadãos. Mesmo que ainda não plenos, é verdade.

E foram representantes dessa parcela incluída, três mulheres e dois homens, que flagrei (e fotografei) no portão de entrada do aeroporto de Salvador, de mãos dadas, olhos fechados, orando e agradecendo a Deus ‘pela oportunidade de fazer esta primeira viagem de avião’. Embora não me filie a nenhuma religião, também acredito que Deus está em toda parte e que iluminou a cabeça desse pessoal do PT e aliados que estão no governo há doze anos e criaram as condições para o acesso de muita gente a esse meio de transporte, antes exclusividade da classe média e da burguesia.

Há poucos dias ouvi a reclamação de uma integrante da classe média de que aeroporto agora parece rodoviária. Parece, não. Os empresários das empresas de ônibus estão reclamando da perda de passageiros para o avião e acho que  se melhorarem, e muito, o serviço a rodoviária é que vai parecer aeroporto. Enfim, o pessoal que não gosta de se misturar irá buscar esse meio de transporte, porque o aeroporto vai estar cheio de novos cidadãos e cidadãs.

Agora compreendo porque ‘nosso pessoal em terra’ me pergunta se sou “fidelidade vermelho”. É porque estou vestido de “rodoviária”. E não é pra menos: só compro roupa anualmente na Liquida Salvador, que acontece sempre no mês de março e lá não tem aquelas grifes de nomes impronunciáveis usadas pelos classe média e burguesia.

Sou sim! No céu, na terra e com uma estrela no peito.


(*) Edvaldo Pitanga é sindicalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário