domingo, 27 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
AI QUE SAUDADE DO ‘NÓIS’!
Autor: Edvaldo
Pitanga *
Constato com alegria, e
um pouco de pesar também, que daqui a trinta dias completarei 59 anos de vida.
Destes, 35 anos de militância, inicialmente no Partido dos Trabalhadores – ao
qual permaneço filiado – e, depois, no sindicalismo do setor público federal e
na CUT, onde continuo em atividade.
É inevitável a volta ao
passado, rememorando inúmeros fatos e passagens desta trajetória política,
alguns de boa lembrança, outros não tanto assim. Então resolvi me ater às boas
recordações. Porque segundo o pessoal entendido em astrologia esse período de
trinta dias que antecede o aniversário é considerado nosso “inferno astral”, se
bem que não sei exatamente o que significa isso. Parece-me ser um momento
conturbado que termina no dia em que você aniversaria. Então vou contrapor com
pensamentos positivos.
Sem muito esforço, no
meio do turbilhão de lembranças, o ‘eu’ e o ‘nós’ tomaram forma. Explico.
A nossa iniciação
política foi feita à luz dos ensinamentos do Marx e do Lenin, onde o
individualismo – o ‘eu’ – era intensamente combatido e execrado porque se
chocava com o interesse coletivo – o ‘nós’. E essa compreensão perpassava toda
a nossa conduta e o nosso discurso. Era
assim, mesmo que a tarefa fosse realizada somente por um(a) militante,
na hora da prestação de contas ele/ela dizia: “nós fizemos” ou “nós deixamos de
fazer”. Isso consolidava a nossa convicção de que não nos construímos sozinhos,
que não conquistamos nada que não fosse fruto do esforço de um grupo – o ‘nós’
– portanto, não cabia a referência no singular – o ‘eu’. Continuo acreditando
nisso.
Mas, inversamente ao
que aconteceu há trinta e tantos anos, hoje o ‘nós’ cedeu lugar ao ‘eu’.
Continuo explicando. Aliás, explicando esse texto e tentando entender o porquê
dessa mudança ideológica.
Construímos e
conquistamos importantes espaços de poder – inclusive a presidência da
república – e à medida que essas estruturas são ocupadas por ‘nosso pessoal’, a
principio para tocar o projeto de acordo com nosso programa, a coisa muda de
figura. Talvez embevecidos com o exercício do poder, por menor que seja –
aliás, quanto menor o nível hierárquico ocupado na burocracia, maiores são as
demonstrações de arrogância, rispidez e petulância – acabam cooptados (as) e
absorvidos (as) pela ideologia burguesa e se afastando da missão e dos
objetivos para os quais o conjunto da classe trabalhadora – o ‘nós’ – lutou e
depositou confiança para a realizarem a mudança. Dessa forma, o ‘eu’ se
agiganta. Isso, quanto ao Estado – nacional e subnacionais.
No meu universo sindical o ‘nós’ pouco está
aparecendo nos discursos. O que aconteceu? Não fomos cooptados pelo aparelho
autoritário e opressivo do Estado; continuamos a representar os interesses da
categoria a que pertencemos e que nos elegeu. Continuamos a discutir e deliberar
nas instâncias próprias: congressos, assembleias, diretorias, etc. Por que,
então, o ‘eu’ é repetido inúmeras vezes? Necessidade de autoafirmação do (a)
dirigente? Afloramento do projeto pessoal – ‘eu’ – em contraposição ao coletivo
– ‘nós’? Necessidade de retomarmos a educação sindical classista em nosso meio?
Inúmeras perguntas.
Só sei dizer que,
embora tenha escrito este texto no singular – ‘eu’ – morro de saudade do ‘nós’.
*
Edvaldo Pitanga é sindicalista
segunda-feira, 21 de abril de 2014
PEQUENO ENSAIO SOBRE A TRAIÇÃO
Autor: Edvaldo Pitanga (*)
Escrevo este texto sob
as bençãos de Nosso Senhor Jesus Cristo que ressuscitou em um Sábado de
Aleluia. Ele que foi traído por Judas Iscariotes, ato consumado por um beijo
denunciador, também foi vítima de Pôncio Pilatos, aquele que lavou as mãos e
disse que não era com ele. Bem, Judas passa pra a história como o mais famoso
traidor e o velho Pôncio como sinônimo daqueles que tiram o seu da reta.
Mas no Brasil temos
outros traidores famosos. No passado, o Coronel
Comandante do Regimento de Cavalaria Auxiliar de Borda do Campo, contratador de
entradas, fazendeiro e proprietário de minas Joaquim Silvério dos Reis Montenegro Leiria Grutes é um deles.
Traidor da Inconfidência Mineira, foi recompensado com diversos “mimos”: o cancelamento de seu débito junto à Coroa Portuguesa, o
cargo público de tesoureiro da bula de Minas
Gerais, Goiás e Rio
de Janeiro, uma mansão como morada, pensão
vitalícia, título de fidalgo da Casa
Real, fardão de gala e hábito da Ordem
de Cristo, além de ter sido recebido pelo
príncipe regente Dom
João em Lisboa.
Judas só recebeu trinta
moedas de ouro.
No Brasil atual, o povo
brasileiro aos poucos vai tomando conhecimento de mais uma alta traição. A de
Eduardo Campos, Marina Silva e de Lídice da Mata. Todos eles participantes dos
governos Lula e Dilma e, na Bahia da gestão Jaques Wagner, também do Partido
dos Trabalhadores.
O Estado de Pernambuco,
governado pelo senhor Eduardo Campos, foi agraciado com pesados investimentos
da União. As ações federais ajudaram a alcançar bons níveis de popularidade.
A candidata a
vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, Marina Silva foi ministra do Meio
Ambiente no governo Lula, aliás, honrando a sua bela história de vida.
E na Bahia, Lídice da
Mata só se elegeu senadora graças a esse arco de alianças construído para dar
sustentação ao projeto iniciado no primeiro governo Lula. E ainda dizem que o
PT é exclusivista!
E esse projeto
significa o combate à pobreza. Mais de 60 milhões de pessoas incluídas, geração
de milhões de empregos – hoje a taxa de desemprego gira em torno de 5%, o menor
índice da história – e programas exitosos como o Minha Casa Minha Vida, Bolsa
Família, Brasil sem Fronteiras. Dos 15 maiores investimentos no mundo, mais da
metade está no Brasil. E a Petrobrás, que no governo FHC tinha seu valor de
mercado estimado em 30 bilhões de dólares, hoje vale 260 bilhões, além de
garantir os recursos necessários aos investimentos em Educação, vindo da
produção das reservas do pré-sal.
Por tudo isso, discordo daqueles que dizem que Eduardo Campos e Marina Silva traíram Lula e Lídice, o
governador da Bahia Jaques Wagner. Pra mim, não foram somente eles os traídos.
A verdadeira traição foi ao projeto de uma sociedade menos desigual. Foi ao projeto de um Brasil para o povo
brasileiro. Foi, enfim, traição ao projeto da classe trabalhadora de vida
digna, de trabalho decente, de desenvolvimento econômico com distribuição de
renda, de democracia.
Judas recebeu trinta
moedas de ouro. Joaquim Silvério, um monte de benesses. E os nossos personagens
deste texto, que recompensas terão? Pra mim, o repúdio da sociedade brasileira
e baiana e o ostracismo, já são de bom tamanho.
Para finalizar, cabem
muito bem aqui as palavras de Leonel Brizola: “a política ama a traição, mas
abomina o traidor”.
Que sirva de lição para
todos nós!
(*) Edvaldo
Pitanga é sindicalista.
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